Klemens, o rebocador que naufragou, embatendo contra as rochas numa noite de tempestade.
Suspeito de carregar uma grande quantidade de droga a bordo, este rebocador foi parte de uma investigação policial que durou anos e anos. Entretanto o mar ia dando conta da sua existência, uma maré cheia de cada vez.
Dei pela primeira vez com este local através de uma fotografia no telefone de um colega. Senti-me imediatamente atraído para aquele cenário. Não conseguia conter o meu entusiasmo na primeira visita ao local com uma Nikon D70, passei o fim-de-semana em família na zona. Deitei a mão a tudo o que consegui encontrar para me preparar para as imagens: imagens de satélite, fotografias tiradas por telemóveis, outros trabalhos feitos por outros aficionados por fotografia, tabelas de marés, previsões meteorológicas, etre outros artefactos. Estava tão preparado quanto possível para a “missão”.
No dia anterior à sessão estudei o local. Ao fundo das íngremes falésias de arenito, lá estava ele, assente numa cama de calhau rolado, com as ondas a esboroarem-se no costado. O ruído das rochas a rolarem com a força das ondas ecoava na baía. O som era impressionante, alto e para ser honesto… assustador.
Manhã seguinte, 4:00 da manhã, o alarme do meu telemóvel tocou. Eu já estava acordado. Não conseguia dormir com a excitação. As possíveis imagens não paravam de aparecer na minha mente, em antecipação da sessão. As expectativas eram altas, tal como o receio de descer aquelas arribas na completa escuridão. Vesti-me, trinquei qualquer coisa e lá fui eu.
O acesso às arribas é feito por uma estrada de terra batida que segue em direção ao Norte da vila. Mais um dos muitos caminhos de pescadores que percorrem a costa portuguesa. Chgado à beira da ravina, um caminho estreito desce a arriba em zig-zag. É este o meu a acesso à praia. Os farois do carro não iluminavam o suficiente. Usei uma lanterna de cabeça para caminhar e uma mais forte para iluminar a zona e confirmar a localização do barco.
A maré estava a encher e no silêncio da noite, as pedras rolantes faziam um barulho infernal que se espalhava fantasmagoricamente por aquele anfitatro natural. O nervoso mudinho estava instalado e as borboletas na minha barriga não paravam enquanto eu descia a enconsta. Tinha de me manter forcado prque o risco de me magoar ou danificar o equipamento estava certamente presente.
Ali estava ele, sozinho no escuro, a desfazer-se no oceano enquanto a ferrugem escavava o metal outrora impenetrável.
O tempo literalmente voou. Fotografei durante 3 ou 4 horas, até que o Sol fialmente espreitou no topo da arriba e projetou sobras por todo o lado. Não +e o meu forte e mesmo a tempo, quando mais um grupo de aventureiros menos madrugadores começaram a aparecer por lá. Estava satisfeito com as capturas, pelo que era a altura certa de regressar para um pequeno-almoço com a família.
5 anos depois, uma vez mais durante umas férias, voltámos à zona. O Klemens estava muito mais enferrujado e tinha perdido a parte mais alta da sua estrutura. A ferrugem estava em todo o lado. Entrar no navio era agora mas fácil porque o bordo estibordo tinha sido todo comido pelas ondas. Agora com a D700 conseguia captar muitos mais detalhes… As algas que cohabitam com as paredes ferrugentas, a hélice ainda brilhante, as notas deixadas por namorados nas amuras de borracha. Usei bem o tempo, calmamente, capturando todos os detalhes e pormenores que me chamavam à atenção; construindo memórias. Ainda bem que o fiz. Não o sabia, mas esta era a despedida. Algum tempo depois, o mar reclamou a maior parte do que restava da estrutura do Klemens.
O tempo foi passando e um dia fui desafiado para mostrar o meu trabalho numa exposição. O primeiro desafio foi a seleção do tema. A Rute sugeriu logo o Klemens. Só então voltei a olhar para as capturas de há anos e curei as possibilidades. Rapidamente me convenci que era isso mesmo.
Esta é a coleção das 13 imagens selecionadas com composeram a exposição.